segunda-feira, 30 de abril de 2012

UMA NOVA ESCOLA PARA UMA NOVA SOCIEDADE



UMA NOVA ESCOLA PARA UMA NOVA SOCIEDADE:   reflexões sobre a necessidade de um paradigma educacional baseado na inovação pedagógica¹
Por Ana Carolina Novaes de Araujo



RESUMO:

Este artigo busca elucidar possíveis causas para o fracasso da escola revelado através de índices educacionais negativos e assustadores, bem como possíveis soluções para esse problema. Uma das causas apresentadas neste trabalho é que escola atual baseia suas práticas e currículo no paradigma fabril que surgiu na era industrial e por isso faz uma educação para a sociedade do passado. Apresenta como solução a construção de um novo paradigma educacional, baseado no construcionismo de Papert, tendo uma nova concepção de ensinar e aprender e do papel do professor, bem como a necessidade da escola inovar pedagogicamente para que alcance resultados positivos, tendo como foco não mais o ensino, mas sim a aprendizagem. Este estudo baseia-se fundamentalmente nos estudos de Fino, Freire, Papert, Piaget, Toffler e Vygotsky.



PALAVRAS CHAVE:

Paradigma. Construcionismo. Inovação Pedagógica.  Ensino-Aprendizagem.



1.    INTRODUÇÃO

A cada dia que se passa inúmeras pesquisas vêm sendo feitas com o objetivo de entender os resultados demasiadamente negativos na educação. Observa-se, de uma forma geral, e de uma forma bastante específica no Brasil, que há uma crescente preocupação com os índices educacionais, que são assustadores. Esses índices revelam que é necessário, para não dizer emergente, que se tome uma medida para que haja uma relevante mudança na educação afim de que possamos ter pessoas melhores preparadas para conviver, até mesmo sobreviver, em uma sociedade que passa por inúmeras mudanças, que acontecem cada vez mais de forma acelerada e intensa.

Diante desse contexto surge o questionamento sobre o que é necessário fazer para mudar esse quadro que se apresenta de forma tão preocupante. É imprescindível que se repense a educação, e de maneira mais precisa se reveja as práticas do espaço destinado historicamente para que essa educação aconteça de forma sistematizada: a escola.

2.    NASCE A ESCOLA...

Historicamente podemos dizer que a escola pública surgiu para suprir a necessidade de uma sociedade que precisava de mão de obra especializada para atuar nas fábricas que surgiam após a Revolução Industrial. Essa escola não se preocupava com a formação de cidadãos, mas sim com a formação de indivíduos moldados para cumprir normas, regras e padrões como a sociedade moderna desejava e precisava.

Essa necessidade surge com o advento de uma sociedade que saía de um padrão de vida pautado em trabalhos manuais, despreocupada com o cumprimento de regras, horários, rotinas, disciplina, para uma nova sociedade, a dita sociedade moderna, que requeria essas características já que ela precisava estar adequada aos padrões desse novo modo de viver. A igreja e a família, como outrora, não podiam mais, sozinhas, preparar os indivíduos. Era imperativo que houvesse uma preparação adequada para que fosse possível manter esse novo estilo de vida. Toffler reforça essa ideia quando afirma que “a era mecânica [...] exigiu um novo tipo de homem. Exigia habilidades que nem a família nem a igreja podiam, por si mesmas, fornecer. Forçou uma revolução no sistema de valores[...]” ( TOFFLER,  1970, p 321). Em meio a essa realidade pode-se dizer que surge um novo paradigma, uma nova forma de ver o mundo: o paradigma fabril.

Fino (2001) ao fazer sua leitura de Toffler diz que esse paradigma exigia um tipo de escola que respondesse às necessidades do modelo industrial. Ela precisava preparar pessoas para esse novo modelo e para isso foi necessário um ensino para a massa. Segundo Toffler (ibidem), “a educação de massa foi a engenhosa máquina construída pela industrialização para produzir o tipo de adulto de que necessitava”. Esse adulto precisava habituar-se a trabalhar entre quatro paredes, com horários a seguir, normas e padrões a serem mantidos e alguém dizendo o que, quando e como fazer . Esta escola “para todos” surge com um currículo rígido, burocrático, pautado no ensino, na preparação da mão de obra especializada para atuar nessa nova sociedade.

3.    NASCE UMA NOVA SOCIEDADE...

O tempo passou, a sociedade mais uma vez mudou (seria melhor dizer que ela está em constante e acelerada mudança). Não vivemos mais sob os desígnios da sociedade moderna, sociedade industrial, poderíamos até mesmo dizer que não estamos mais dirigidos pelo paradigma fabril. Isto é fato! A sociedade atual vive a era do conhecimento, onde se privilegia o capital humano em detrimento do capital financeiro que norteava as relações na era industrial. No entanto, apesar dessa mudança tão nítida na sociedade, nota-se que a escola não tem seguido esse ritmo frenético de mudanças. Caso pudéssemos fazer um paralelo entre imagens do hoje e do ontem, veríamos fulgentes diferenças em diversas organizações, na família, na sociedade como um todo, mas escassas seriam as alterações no espaço escolar, desde sua estrutura física, suas práticas, seu currículo, suas concepções.

Não estamos mais vivendo sob a regência do paradigma fabril que exigia da escola uma prática que propiciasse a formação da mão de obra que as fábricas necessitavam e que não precisava ser criativa, autônoma, pensante, pelo contrário, precisava saber seguir padrões e normas pré-estabelecidas, ditadas por alguém que tinha o domínio do poder e por esse motivo controlava os comportamentos. Vivemos um novo tempo em que a sociedade preocupa-se com a globalização, com a tecnologia e resultados. Sociedade que procura pessoas aptas a lidar com tudo isso, capazes de agir com criatividade e autonomia, de gerir seu conhecimento e seu tempo.

4.    UMA VELHA ESCOLA NUMA NOVA SOCIEDADE

Em meio a essa realidade, voltamos o nosso olhar para a escola, que em tese, seria a instituição responsável por “preparar” o indivíduo a atender a demanda do seu tempo e verificamos que, nesse sentido, a escola é uma instituição falida.

Mas por que dizemos que a escola é uma instituição falida?

Ora, se dissemos que a escola deveria preparar o indivíduo para o seu tempo, e dissemos ainda que a sociedade atual precisa de pessoas criativas e autônomas, capazes de gerenciar seu conhecimento e seu tempo, verificamos que a escola não tem atingido esse alvo, tem falhado em sua missão e essa constatação nos impele a investigar, mesmo que de maneira superficial, a causa, ou causas, dessa falha,  contudo não apenas descobrir o motivo da falha, mas também buscar possíveis soluções.

Nesse sentido, precisamos mais uma vez voltar à história da educação, olhando o passado, para tentar entender o presente e planejar o futuro.

Como vimos anteriormente, quando a escola pública surgiu, no ápice da Revolução Industrial, ela precisava preparar a mão de obra das fábricas que surgiam e para isso tinha um currículo rígido, baseado na preparação específica para a atuação nesse mercado. Nesta escola o foco estava no controle dos comportamentos, na instrução, no ensino de conteúdos, de normas e regras rígidas, incontestáveis, que deveriam ser apenas seguidas, pois quem agisse de forma diferente, ou encontrasse outras respostas distintas das que eram” ensinadas”, era tido como subversivo.

Verificamos que hoje, apesar das mudanças da sociedade, da “exigência” de um novo indivíduo, com especificidades já citadas neste trabalho, a escola continua com as práticas de outrora. Seu currículo continua fragmentado, a prática baseia-se no controle do comportamento, na instrução, na transmissão de conteúdo que na maior parte das vezes é descontextualizado, sem relação alguma com a vida prática, com o desenvolvimento de habilidades e competências que auxiliarão a vida não apenas no presente, mas também no futuro.

5.    NASCE UMA NOVA ESCOLA

Neste ponto, julgamos ser essencial retomar os estudos feitos por Papert sobre o construcionismo, que segundo o próprio autor é uma reconstrução pessoal do construtivismo de Piaget. Com base na prática do construcionismo, aliado à inovação pedagógica, que veremos a seguir, certamente conseguiremos construir uma nova escola em nosso tempo.

O construtivismo é uma teoria psicológica, um meio de explicação do sistema cognitivo e nos revela que as crianças constroem suas estruturas cognitivas em relação com o mundo e individualmente. Piaget descreve como é que esse processo de construção acontece afim de melhor entender a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, que são vistas como sujeitos ativos, construtores de conhecimento.

O construcionismo expande esse conceito do construtivismo, ele é uma interpretação pedagógica da teoria de Piaget – é o construtivismo em ação, na prática.

Diferente de Piaget que em sua teoria, em momento algum citou o que acontece dentro do espaço escolar, haja vista ter construído uma teoria da cognição, ligada à psicologia da aprendizagem, Papert aplicou essa teoria na escola e preconiza que o foco da escola deve ser a aprendizagem e não o ensino, como tem sido até então. Não deve haver uma preocupação com a instrução, com a transmissão de saberes, mas sim com a construção do conhecimento. É necessário motivar os alunos a aprender, instigá-los a buscar respostas criativas e autônomas para os problemas que lhes são apresentados, buscar novas perguntas, sem se preocupar se em meio a essa busca muitas vezes haverá o erro, pois sabe que é através do erro que se chega, de fato, ao conhecimento.

Papert (2008, p.135) diz que:



O construcionismo é construído sobre a suposição de que as crianças farão melhor descobrindo por si mesmas o conhecimento específico de que precisam; a educação organizada ou informal poderá ajudar mais se certificar-se de que elas estarão sendo apoiadas moral, psicológica, material e intelectualmente em seus esforços. O tipo de conhecimento que as crianças mais precisam é o que as ajudará a obter mais conhecimento.



Nesse sentido, se fizermos um paralelo desse conceito com as práticas em nossas escolas, veremos quão distantes estamos. Nosso foco não tem sido a aprendizagem dos nossos alunos, de fato, por isso talvez estejamos fadados ao fracasso; por esse motivo talvez nossos indicadores educacionais sejam tão desastrosos. É emergente a mudança. Precisamos garantir que o princípio defendido por Papert seja uma realidade: o máximo de aprendizagem com o mínimo de ensino.

Mas como será isso possível? O que fazer para que teorias, estudos como esse de Papert tornem-se realidade? Como fazer uma revolução na educação e fazer surgir uma nova escola que é capaz de preparar o indivíduo para o presente e para o futuro, desapegando-se das concepções, objetivos educacionais e práticas preconizadas no período que surgiu a escola pública, século XIX, e que de certa forma direciona e determina a prática e o currículo da escola atual?

Aqui apresentamos algumas possíveis respostas: a concepção do que é ensinar e aprender, o papel do professor e a capacidade da escola inovar pedagogicamente. Nesse sentido, é mister retomar os estudos sóciointeracionistas de Vygotsky, bem como as reflexões de Paulo Freire, o estudo sobre a tecnologia na escola que Papert e Fino fazem que certamente  nos auxiliarão nessa busca de respostas

Comecemos essa busca pensando sobre as concepções de ensinar e aprender. Ao longo da história várias concepções surgiram sobre o ato de ensinar e essas determinavam as práticas pedagógicas, a metodologia, a postura do professor em sala de aula. Historicamente o papel da escola era o de ensinar, no sentido de transmitir conhecimentos, sendo o professor a pessoa responsável por essa transferência.  Era necessário desenvolver a didática, que é a arte de ensinar.

Numa perspectiva freireana, esse tipo de ensino é aquele que predomina numa educação intitulada por ele de “educação bancária”, ou seja, ensinar significa depositar, transferir, transmitir valores e conhecimentos (FREIRE, 2007). Poderíamos também dizer que esse modelo é o presente no paradigma fabril.

Seguindo esse modelo de educação onde os educadores tudo sabem e os educandos nada sabem, esse saber deixa de ser experiência pessoal, construída ativamente, para ser uma experiência passiva e dessa maneira não pode haver conhecimento, pois os educandos não são chamados a conhecer, mas a memorizar o conteúdo narrado pelo educador.

Vygotsky contrapõe-se a essa ideia haja vista o mesmo ter uma concepção que entende que o conhecimento é socialmente construído pelas e nas relações humanas, tendo o indivíduo um papel ativo, sob a influência do meio.

Mais uma vez tornamos a falar do construcionismo, que semelhante ao construtivismo, fala do desenvolvimento da cognição, mas de forma atrelada à relação com o outro. Nesse ponto, Papert e seu construcionismo utilizam-se da teoria vygotskyana da ZDP (zona de desenvolvimento proximal), que pode ser considerada justamente o ambiente da interação. Na ZDP deve haver alguém que sabe mostrar as ferramentas para a construção do conhecimento, para a solução dos problemas, para o controle metacognitivo, pois nesta zona o indivíduo lida com habilidades que estão emergindo. É preciso haver uma relação um a um, não um para todos como na instrução simultânea.

Nesse sentido, poderíamos dizer que ao praticar essa teoria estaríamos inovando pedagogicamente ao entender a inovação pedagógica como o rompimento de práticas habituais na escola, como quebra de paradigma.

Como vimos, historicamente a escola baseou-se no paradigma fabril e foi pautada por uma educação que tinha como  foco o ensino. Nessa perspectiva, nesta nova escola que se deseja, invertem-se os papeis. O foco não é o ensino, mas sim a aprendizagem, a construção do conhecimento que se dá de forma ativa, mediada por alguém que cria momentos de aprendizagem e as crianças trabalham não na zona independente, mas na zona proximal. Esse mediador, que pode ser o professor (ou não), tem o papel não de contemplar, avaliar, observar o processo de construção do conhecimento do educando, mas sim colaborar, interagir.

Quando isso acontece podemos dizer que de fato a aprendizagem está acontecendo, não no sentido habitual de aquisição de conteúdos escolares, não no sentido de que o aprendiz é um paciente da transferência do objeto, mas sim no sentido de um sujeito ativo, crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de sua construção. (FREIRE, 2005)

É necessário compreender que o aluno é sujeito da sua aprendizagem, é ator e autor da construção do conhecimento, da aquisição e sistematização dos saberes escolares, portanto esse deve ser um processo ativo, reflexivo, dinâmico e significativo,que o envolva por completo e que o possibilite agir no seu cotidiano, pois se os conteúdos escolares a serem “aprendidos” na escola não possibilitarem a prática da liberdade, a autonomia e uma prática social autêntica, crítica e participativa, eles perdem seu valor e consequentemente o sentido e o estímulo de serem “aprendidos”.

No momento em que tivermos isso claro, no momento em que essa concepção fizer parte da prática das escolas, diremos que as mesmas estarão inovando pedagogicamente, pois romperão de fato com o paradigma fabril e estarão iniciando um novo paradigma, não alicerçado na didática (arte de ensinar), mas sim na matética (arte de aprender).

Vale ressaltar aqui, que diferente do que a maioria pensa, a inovação pedagógica não se dá, necessariamente, através do uso das TIC’s na educação. É inegável o valor das tecnologias da informação e que de fato elas são um instrumento eficaz para auxiliar a aprendizagem (apesar de verificarmos que a tecnologia tem sido um instrumento para auxiliar tão somente o ensino). No entanto, elas não são fator fundamental para determinar uma prática pedagógica inovadora, pois para inovar é necessário ir além das aparências, é preciso ir à essência e mudá-la. A inovação pedagógica tem estreita relação com a autonomia do educando, não se centra na figura do professor. É a descontinuidade de tudo que vivenciamos no espaço escolar até agora, é a quebra de paradigma e a construção de uma nova forma de fazer a educação, que se baseia em preparar seus educandos não para uma sociedade e exigências do passado, mas sim para o futuro, nos obrigando a construir uma nova concepção do que de fato é ensinar e aprender, usando a tecnologia não como o instrumento didático que garante a inovação, mas sim como instrumento facilitador da aprendizagem.

Esse conceito muito se difere do que vem sendo habitualmente pregado e praticado. Muitas instituições de ensino pensam que por usar a tecnologia em suas práticas elas estão inovando pedagogicamente, no entanto elas não percebem que tem transmitido as mesmas aulas, os mesmos conteúdos, sendo um professor responsável pela transmissão das informações só que com um instrumento diferente de outrora. O foco continua a ser o ensino e não a aprendizagem, a busca autônoma e criativa de novos saberes que auxiliarão os educandos na construção do seu conhecimento.

É notório que o uso da tecnologia pode auxiliar no processo de inovação pedagógica.  Como por exemplo, podemos citar o LOGO, que é uma linguagem de programação idealizada por Papert, a qual podemos dizer que é uma metodologia de ensino e aprendizagem no ambiente computacional, que tem uma linguagem interativa que possibilita à criança construir conhecimento fazendo uso do computador. Esse conhecimento é construído através da tentativa e erro, através do desejo de ensinar à Tartaruga a desempenhar funções, utilizando-se basicamente de conceitos da geometria.

É interessante que o uso do LOGO, como deve ser o uso das tecnologias em educação, não se encerra em apenas atingir o objetivo de desenhar uma flor, por exemplo, dando os diversos comandos de programação computacional. A partir do uso da tecnologia, as crianças começam a pensar sobre a sua aprendizagem, como fazer para alcançar melhores resultados ou as respostas de forma mais prática e rápida. Ao pensar sobre a sua própria aprendizagem o conhecimento é construído de forma significativa e prazerosa, já que ele é o próprio responsável por essa construção, ao descobrir fatos, fazer generalizações de proposições e aprender habilidades.

Com o uso do LOGO em educação, por exemplo, podemos sim dizer que a informática, a tecnologia, favorece a inovação pedagógica, haja vista o mesmo possibilitar a construção do conhecimento, favorecer a aprendizagem que acontece através da tentativa e erro, através do desejo de criar novos códigos para atingir metas cada vez mais desafiadoras, de usar os cálculos geométricos adequados para desenhar o objeto desejado, sendo o próprio indivíduo responsável pela sua aprendizagem, auxiliado por um mediador, que no caso da escola pode ser o professor. È diferente de usar o computador para executar tarefas que o professor determina e diz o que e como deve ser feito.

Quando há uma prática pedagógica inovadora, com uso ou não das tecnologias, os educandos aprendem a agir criticamente no meio em que convivem, deixando de agir ingenuamente para conscientemente colocar em prática os saberes adquiridos, propiciando a transformação da realidade através da ruptura com um pensamento que dirigiu o passado.

6.    PARA CONCLUIR...

Com todas essas reflexões talvez tenhamos uma resposta, ou ao menos uma luz no fim do túnel que nos permita buscar a resposta para a questão inicial deste trabalho: por que os indicadores educacionais revelam uma educação tão ineficiente?

Poderíamos afirmar diante do que fora exposto até este momento que a ineficiência da educação reside justamente na prática baseada em um paradigma de uma sociedade do passado, sendo necessária uma revolução baseada na inovação pedagógica para que a educação de fato alcance o sucesso, tendo como fundamento não mais o ensino, mas sim a aprendizagem.



REFERÊNCIAS



FINO, C. N. O Futuro da Escola do Passado. IN: Jesus Maria Sousa & Carlos Nogueira Fino (org.). A Escola sob Suspeita. Porto: ASA, 2007.



______ Um novo paradigma (para a escola): precisa-se. IN FORUNa – Jornal do Grupo de Estudos Clássicos  da Universidade da Madeira, 1, 2. Funchal: Universidade da Madeira, 2001.





______. Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, vol. 14, nº 2, pp  273-291,  2001.



FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. 31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.



______ Pedagogia do Oprimido. 46. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.



PAPERT, Seymour. A Máquina das Crianças – repensando a escola na era da informática. Ed. Ver. Porto Alegre: Artmed, 2008.

______. LOGO: computadores e educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

TOFFLER, Alvin. O Choque do Futuro. Petrópolis/RJ: Record, 1970.

VYGOTSKY, Lev. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2003.


¹
Trabalho apresentado para a avaliação do  seminário de acesso ao mestrado em Ciências da Educação, área Inovação Pedagógica -   módulo Tecnologia e Pedagogia Construtivista, orientado pelo professor Dr. Carlos Nogueira Fino, em outubro de 2011.








REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES NO ESPAÇO ESCOLAR




Estava lendo mais uma vez o livro de Celso Antunes intitulado Trabalhando Habilidades, Construindo Ideias (2001) depois de muitos dúvidas e questionamentos sobre como elaborar o plano de curso do professor. Ao ler este livro, tomei nota de alguns pontos que julgo essenciais para a nossa melhor compreensão da temática. Para não correr o risco de fazer uma interpretação errada do que Antunes queria dizer, trago aqui algumas citações que considero imprescindíveis  e  logo em seguida faço a minha análise particular sobre seu ponto de vista. Convido você a junto comigo fazer essa reflexão e ao final tentarmos chegar a algumas conclusões.
Para começar, um conceito de habilidade...
Podemos definir habilidade operatória como : capacidade  cognitiva ou apreciativa específica que possibilita a compreensão e a intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais;  aptidão que pode ser  estimulada e que ajuda  a fazer conexões e construir significados. ( p. 22)
Com essa definição, acredito eu, podemos entender que a nossa prática docente deve estimular aptidões que ajudem nossos educandos a fazer conexões entre os conteúdos, conseguindo relacioná-los com seu cotidiano.
Outra citação que julgo bastante pertinente para melhor compreendermos o que seriam essas tais habilidades a serem desenvolvidas em sala de aula é:
Em uma visão mais avançada, o conteúdo é o objeto e as habilidades operatórias, a ‘ferramenta’ para trabalhá-lo, gerando a desestabilização. A simples explanação de um conteúdo  representa o fim do problema; o uso de habilidades em sua análise  instiga a inteligência  e a aprendizagem significativa.  ( Antunes, 2001,p 23)
Eu acho essa explanação de Antunes fenomenal! Ele parte do princípio piagetiano de que a aprendizagem, de fato, surge de uma situação problema. Só podemos afirmar que aprendemos algo quando somos capazes de  solucionar problemas utilizando as ferramentas  ( habilidades) que desenvolvemos. Infelizmente construímos um sistema educacional em que as escolas tinham como função  dar as respostas de como solucionar esses problemas, quando na verdade, ainda numa visão piagetiana, a escola e a prática do professor ( mais especificamente), deveriam desafiar os alunos , despertar dúvidas para que o aluno fosse em busca das respostas – aí sim teríamos uma aprendizagem significativa e consequentemente uma educação de qualidade .
Mas voltemos ao livro de Antunes...
É interessante a reflexão que ele também faz sobre a relação conteúdo e habilidade. Eu fico a imaginar as dificuldades que temos enquanto professores quando temos que fazer um plano de curso, pois fomos formados a trabalhar conteúdos e fazer todo o nosso planejamento tendo-os como base, aliados ao livro didático que já traz uma sequência de conteúdos a serem trabalhados. Realmente é muito complicado desconstruir o que aprendemos e praticamos durante anos, mas chega um momento em que verificamos que esse sistema era falho, pois as escolas acabavam apenas reproduzindo conteúdos, os alunos sendo meros receptores e isso torna cada vez mais a nossa sociedade alienada, incapaz de pensar por si só, pois sempre é necessário ter alguém para dizer o que fazer, como fazer, quando fazer e qual a opção certa, sempre temendo correr o risco de errar, esquecendo que o erro é o melhor instrumento de aprendizagem.
Antunes, nesse sentido,  afirma que :
 É inegável que o  velho argumento de que ‘não adianta ensinar habilidades se os vestibulares ou exames de seleção cobram apenas conteúdos’ está ultrapassado. O primeiro passo para  a reformulação das aulas é deixar de pensar no ‘conteúdo pelo conteúdo’ e fazer dele um instrumento que permita ao aluno treinar ações, expressas por verbos contextualizados nesse conteúdo. Esses “verbos de ação” são as habilidades operatórias. ( p. 22)
Para finalizar essa rápida reflexão, não podemos esquecer o que de fato significa então trabalhar com habilidades em nossa prática pedagógica.
 Trabalhar  com habilidades significa valorizar a experiência  dos alunos e estimular suas pesquisas,  mostrando que as perguntas ou dúvidas são sempre mais importantes do que as respostas  e elaborando com eles processos não-formais de ensino . Significa também  integrar a ação escolar à realidade dos alunos. ( p.77)
O trabalho para o desenvolvimento de habilidades certamente permitirá que façamos dos nossos alunos não meros reprodutores de conhecimentos e saberes construídos por outros, mas sim autores de novos conhecimentos construídos com dinamismo, criatividade e autenticidade. E é  isso que desejo!
Por Ana Carolina Novaes de Araujo
Março/2011
 REFERÊNCIA
ANTUNES, Celso. Trabalhando Habilidades: construindo idéias.São Paulo: Scipione, 2001. ( Pensamento e Ação no  Magistério)




domingo, 29 de abril de 2012

UMA FLOR BROTANDO NO SERTÃO...


Em uma terra tão seca como a nossa, quando enfrentamos talvez a maior seca dos últimos 30 ou 40 anos, quando olhamos nossa vegetação e vemos apenas galhos secos e retorcidos  ficamos um tanto desencantados. No entanto, quando ao longe vemos uma cor diferente, quando vemos “uma flor fulorando na seca” , com a licença do grande  sertanejo Luiz Gonzaga, a nossa esperança é renovada, pois esse é um sinal de chuva no sertão  e chuva é sinônimo de vida.

Com essa linguagem figurativa eu me refiro ao que vi na Associação Pedagógica Waldorf, na cidade de Várzea da Roça – Ba, projeto apoiado pela UNESCO e Criança Esperança 2012  - UMA FLOR NO SERTÃO!

Quando vemos a flor no sertão uma das primeiras sensações que temos é de encantamento e essa é a sensação, é o sentimento dessa professora esperançosa e sonhadora , bem como dos alunos dela do  2º e 3º semestre do curso de Pedagogia da FCG – Faculdade de Ciências Educacionais Capim Grosso.

Esse encantamento é fruto de uma visita realizada à Associação no último dia 21 de abril, com o objetivo  dos estudantes do curso de Pedagogia conhecerem o cotidiano e as práticas de ensino de uma escola que segue uma linha pedagógica diferente daquela a qual eles estão habituados . Essa atividade faz parte da proposta da disciplina Didática , que eles estão estudando neste semestre, que trata dentre  vários conteúdos  sobre  as distintas linhas pedagógicas, partindo de uma perspectiva histórica e concepção teórica para uma perspectiva didática, verificando os pontos positivos e negativos de cada uma delas e a possibilidade da prática no cotidiano escolar.

Fomos ali conhecer  a  Pedagogia Waldorf que é desenvolvida na Associação visitada. Essa  é uma pedagogia  pouco conhecida pela  maioria das pessoas, até mesmo daqueles que se dedicam a estudar mais profundamente a educação. E   vale salientar que foi surpreendente ver aquele trabalho que é feito com muito empenho e dedicação, partindo do princípio de uma educação holística, onde as crianças se desenvolvem como um todo.

Vimos na Escola Anael, mantida por essa Associação, que  atende crianças a partir dos 03 anos de idade e tem turmas de Educação Infantil , 1º e 2º anos do Ensino Fundamental, além de aulas complementares de música, arte, inglês, dentre outras, uma prática pedagógica que parte sempre da experiência concreta das crianças , com o uso de muita música, movimento, ritmos para desenvolver não apenas os 05 sentidos que pensamos ter, mas 12 sentidos que nós nem mesmo sabemos que temos, muito menos temos desenvolvidos em nós.

Continuo aqui usando uma linguagem figurativa, para dizer que vejo o trabalho desenvolvido nesta Associação, nesta escola, como a flor do sertão. Flor que surge no terreno árido da nossa região trazendo esperança de vida em um lugar desacreditado, muitas vezes até esquecido.

 Ao ver o trabalho desenvolvido na Associação Pedagógica Waldorf a  minha esperança renasce, volto a acreditar que por meio da educação é possível sim mudar a vida de pessoas , de lugares desacreditados, sem esperança. Através da Pedagogia Waldorf consigo ver, acima de tudo, um trabalho que permite as crianças acreditarem em si, se auto conhecerem, relacionar-se bem consigo e com a natureza, desenvolverem competências e habilidades que lhes permitirão ter um futuro com mais êxito. Certamente as crianças ali atendidas daqui a alguns anos serão pessoas bem melhores, a semente plantada em cada uma delas vai brotar em tempo oportuno e elas serão referência naquela comunidade, assim como o trabalho desenvolvido naquela associação já é.

Ficamos felizes de poder participar deste trabalho e nosso desejo  é continuar acompanhando-o , apoiando-o no que for necessário e possível pois vejo ali  um lindo trabalho de pessoas comprometidas com a educação, com a formação das pessoas , com o bem comum, com o amor e respeito pela natureza.

Vale a pena conhecer trabalhos como esses que podem mudar a história de uma comunidade , mudar a história de um povo sem esperança . Que as pessoas da nossa região possam ver essa flor brotar, possam regar essa flor e possam contribuir para que essa seja só a primeira de muitas outras flores que podem surgir nesse nosso sertão tão sofrido. Que acreditemos que realmente a educação é a arma mais poderosa que temos para mudar o mundo, como disse Nelson Mandela, e que se a educação não muda tudo, é impossível mudar alguma coisa sem a educação, como disse Paulo Freire, nordestino, sertanejo e Patrono da Educação Brasileira.

Obrigada a toda equipe da Associação Pedagógica Waldorf por nos ensinar lições que jamais serão esquecidas, por fazer renascer em nós a esperança.