quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Reflexões sobre o Projeto Político Pedagógico





REFLEXÕES SOBRE O PPP -  Projeto Político Pedagógico
Ana Carolina Novaes
“A finalidade de um PPP é impregnar a escola com uma reflexão sobre a prática pedagógica vigente e construir um ambiente de práxis (prática reflexiva) constante e crescente”.
(Elimar Silva Melo, Marcelo Freitas)
Baseado na frase acima, redija um texto dissertativo/argumentativo respondendo a seguinte questão: De que forma devemos conduzir nosso trabalho para que as concepções presentes no PPP sejam colocadas em prática, e não permaneçam apenas no papel?
Em uma das minhas muitas reflexões me peguei pensando mais uma vez sobre o PPP  tentando entender de que forma devemos conduzir nosso trabalho para que as concepções presentes nele sejam colocadas em prática e não permaneçam apenas no papel, como vemos na maior parte dos documentos educacionais brasileiros.
Isso é algo que me inquieta muito,pois ando cansada de discursos vazios ou utópicos, de pessoas que falam muito e fazem pouco e com tudo isso continuamos a ter uma educação ineficaz que não consegue garantir o mínimo direito de aprender que nossos alunos têm.
É muito interessante o discurso e a postura que se tem em relação ao Projeto Político Pedagógico desde a lei nº 9.394/96 que afirma em seu artigo 12 que “ os estabelecimentos de ensino , respeitando as normas comuns e as dos seus sistemas de ensino, terão a incumbência de elaborar  e executar sua proposta pedagógica”.
A partir de então, surgiu um grande número de discussões sobre a temática, revelando principalmente a importância de cada escola ter a sua proposta pedagógica, proposta essa que também deveria ter um caráter político, onde suas concepções sobre mundo, sociedade, educação, escola, homem  fossem reveladas, tudo isso a fim de garantir a identidade de cada estabelecimento de ensino.
Realmente entende-se como Veiga ( 2001, p.110) que
 o PPP É um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa.
No entanto, o que se pode verificar é que esse tem sido um discurso vazio, pois o PPP realmente tem belíssimas concepções no papel, mas são teorias que não são vivenciadas, que não podemos reconhecê-las na prática, principalmente na prática pedagógica, que continua repleta de ranços, focada apenas no ensino, com um currículo que aprisiona , e não permite o exercício da autonomia, da liberdade, do protagonismo, do diálogo , que são práticas que favorecem uma educação efetiva e de qualidade.É um discurso vazio, pois cai no erro de ser apenas teoria, e não prática; de ser apenas um documento, mas não um elemento que norteie as ações.
Muitas vezes essas práticas e concepções são defendidas no documento escrito chamado PPP, mas não na prática dele, pois elas estão ocultas, ou melhor, elas são inexistentes, e nossas instituições de ensino continuam com uma prática reprodutivista, que não oportuniza a crítica e a liberdade, sem foco, o que gera inúmeros outros problemas, como os que temos vivenciado de forma ampla e geral na educação brasileira que apresenta índices alarmantes quanto ao nível educacional dos nossos estudantes. Talvez por essa razão, seja tão difícil verdadeiramente dizer que uma escola tem um PPP, porque ele é um documento vivo, sempre inacabado, e que alimenta a melhoria e a objetividade da prática pedagógica. Talvez um dos grandes problemas educacionais que tenhamos seja justamente esse: temos muita teoria e pouca prática. Somos ótimos em teorizar, em ter concepções, mas não conseguimos fazer a transposição desse discurso para a prática.
Diante desse impasse, cabe-nos não apenas indicar os erros ou problemas inerentes à vivência das concepções contidas PPP na prática pedagógica, mas propor ações que viabilizem a solução para o problema apresentado que é tornar o PPP uma realidade, um documento vivo onde as concepções nele contidas sejam vivenciadas. Seguindo uma linha freireana, diríamos que a solução mais viável é a prática do diálogo. Seria a reflexão não sobre a ação em si, apenas, mas uma constante reflexão sobre a concepção defendida, tentando relacioná-la com a prática e verificando as divergências entre uma e outra. É uma reflexão do seu cotidiano. (VEIGA, 2001)
A partir daí, é ter ousadia para se necessário mudar as concepções explicitadas no PPP escrito, para que ele seja um retrato fiel da realidade, revelando a real intenção, a real concepção que se tem sobre o processo ensino aprendizagem, as relações dentro do ambiente escolar, o indivíduo que se deseja formar, o modelo de educação que se acredita. É necessário através do diálogo, ou a partir dele, refletir sobre ação, e essa reflexão deverá alimentar a ação, de forma constante e contínua, tendo consciência que semelhante ao mundo, a sociedade, as pessoas estão constantemente mudando,  e por essa razão não podemos ficar arraigados nem inertes em nossas velhas concepções de mundo, de escola , de educação, do fazer pedagógico. Não podemos continuar alimentando a nossa prática com concepções e paradigmas criados para uma sociedade e indivíduos do passado, mas através da prática do diálogo, da prática da democracia e da descentralização ,  da instalação de um processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório, conseguiremos sim mudar o quadro da nossa educação. Conseguiremos , a partir dessa consciência, ter um PPP que realmente seja ao mesmo tempo um espelho que revela as nossas concepções e ao mesmo tempo uma bússola, que norteia as nossas práticas, em busca sempre do sucesso do nosso aluno, garantindo a ele o direito de aprender.

REFERÊNCIAS

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político Pedagógico: Uma construção
possível. Cortez, 2001.


Capim Grosso, 22/01/2014